domingo, 28 de novembro de 2010

ponto

São 06h19 da manhã do dia 02 de novembro de 2010 e daqui a pouco eu vou sair.

É curioso como a vida funciona. Ou melhor...como a minha vida funciona.

Nesses ultimos meses, eu posso dizer com certeza que vivi mais do que nos ultimos anos juntos. Vivi diversas coisas que eu desejava mas que achava que iam ficar apenas na minha imaginação. Estou mais maduro, e ainda, mais criança.

Quando eu disse que é curioso como a minha vida funciona eu me refiro ao fato de que justo agora, no fim dela, eu estou começando a me conhecer e ver onde estão os meus erros. Escrevendo isso eu tive a sensação de que tudo que eu escrevo tem relação com problemas e tristezas, mas não posso mudar a realidade, eu posso sonhar, sim, posso pensar e idealizar um mundo diferente e tentar mudar certas coisas, mas esse verbo "mudar" não pode ser usado muito profundamente. São muito poucas as coisas que a gente pode mudar. Muito pouco depende de nós. Numa fase eu costumava concordar com as pessoas que dizem que sorte não existe e que apenas a vontade faz a nossa vida. Isso não é verdade. A maior parte do que vivemos não está sob nosso controle. Conhecer alguém especial, ser bonito, ser popular, ser querido, ter bons parentes, nada disso podemos controlar. Certas coisas apenas são ou não são. Existem muitos livros sobre o que muitas pessoas chamam de destino, ou karma, e esse é um assunto que nem os grandes filosofos chegaram a uma conclusçao. Certas coisas são o que são e é inutil resistir. Quando eu aprendi isso, que eu definitivamente não vou viver no mundo ideal que existe na minha cabeça, que as pessoas não vão me tratar como eu acho que mereço, que eu não vou ter 1.80m de altura ou um corpo pefeito, as coisas começaram a ser mais faceis pra mim.

É curioso o fato de eu estar escrevendo isso hoje, do nada, não havendo acontecido nada na minha vida que tenha me levado a escrever essas palavras. Uma vez eu falei pra um amigo que eu raramente sou ou estou inspirado e que quando escrevo, sai como vomito. É como se um monte de sentimentos e pensamentos se acumulassem em mim e de repente jorrassem como num orgasmo. Porém, na maioria das vezes, esses senitmentos acumulam demais e são tantos que eu não consigo expressar. São tantas as coisas que eu gostaria de dizer, mas quando sento na frente do computador ou com meus diarios, não consigo escrever uma linha, uma virgula. Não sai nada. É como se eu ficasse entupido com tudo isso. Agora estou diferente, sinto como se pudesse escrever por horas sem parar, mas não posso pois tenho que sair em poucos minutos.

Eu sempre acreditei, e ainda acredito que as pessoas não gostam de mim nem nunca gostaram, e tenho a tendência a desacreditar completamente em demonstrações de afeto ou palavras de carinho, tanto que quando recebo, sempre penso que a pessoa não me conhece o suficiente para dizê-las e que se me conhecesse não as diria. Eu não me considero uma boa pessoa. Eu sou extremamente superficial e egoista. Admito que a grande parte das coisas erradas em minha vida são minha culpa. E mesmo a minha relação com as outras pessoas é um pouco culpa minha. Eu sempre creditei a minha personalidade antissocial ao fato de ser feio. Eu me acho feio, mas essa não é a questão principal dentro de mim. Eu poderia ser o ser mais perfeito da terra e ainda sim iria me achar horrivel. Eu cresci com isso na cabeça e nunca vou mudar. Mas a aparência não importa nem um pouco. É a forma como você se vê e se trata que importa. E eu me trato mal. Eu não me acho merecedor de nada nem do amor de ninguém. Tenho por instinto um comportamento auto-destrutivo. Sempre faço algo para estragar as coisas justamente por não me achar digno delas.

Mas eu cheguei a conclusão de que não é a forma como os outros me vêem que importa pra mim, mas sim a forma como eu vejo os outros. Eu não falo, mas sou extremamente critico. Dentro de mim existe uma batalha constante entre achar as pessoas superiores e inferiores a mim. Acho que nesse momento não existe nenhum motivo para esconder isso. Quando eu estava crescendo, eu era diferente demais de todo mundo e eu me escondi por trás de diversas pequenas coisas que me tornavam mais diferente ainda, e eu tomei uma atitude de desdém em relação a todo mundo e às atividades dos outros. Se eles não me aceitavam, eu pensava, eles não eram dignos de mim. Mas na verdade, eu tinha medo deles e me fechei no meu mundinho pra não sofrer mais. Uma vez eu disse pro meu psiquiatra que eu tinha exata consciência dos meus problemas e que isso era pior do que não saber, pois o ignorante fantasia, o ignorante não sabe. Clarice Lispector disse uma vez que o adulto é triste e solitario...eu não sei quanto aos outros, mas eu sou e era triste e solitario desde criança.

Ter consciência dos meus problemas, no entanto, não me deu habilidade pra resolvê-los. E então eu fiquei perdido entre o que eu era e o que eu devia ser pra me adaptar fazer parte do mundo.

Às vezes eu me pego pensando no quanto do que sou é real. Ás vezes parece que eu procuro me diferenciar dos outros.

2 comentários:

  1. Magnífica..surreal sua descrição a respeito dos conflitos internos.Sem saber vc descreveu outra pessoa além de vc mesmo,meu nome é Tatiane Galdino e adoraria conversar com vc.Segue meu msn:tatygaldino@hotmail.com.
    29/04/11

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  2. neto adoro seus textos sao maravilhosos , é a mesma coisa comigo , penso as vezes que posso mudar , mas quanto mais eu tento mais percebo que a maioria das coisas nao estao sob nosso controle, tem tantas coisas que gostaria de dizer para as pessoas , mas eu nunca consigo me expressar.... sao tantos pensamentos ,que estou começando a escrever poemas , no momento é a unica forma de consiguir dizer o que eu sinto...

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